11.6.13

Menina Pássaro


Procurando ar, batendo as asas, chorando, pequena,  grande,
sorrindo e logo depois voando alto. Acima das árvores e abaixo das nuvens.
Assim, menina pássaro nasceu.

Pássaro com penas curtas, mas com um colorido de dar inveja a paleta de cor de qualquer  pintor. 
Ela voava, cantava, dançava, encantava e todos viam.
Era assim todo o dia. 
E foi num desses dias, na mesma cantoria, que ela construiu seu ninho no lugar mais alto de uma árvore. Lá, ela canta, ela dança... ela mãe.
Três beijos, três abraços, bom dia e boa noite. Era sempre assim todos os dias. 
Com o voo e o canto alto. Acima das árvores e abaixo das nuvens.

Os dias passavam em três, depois quatro, cinco e talvez seis. 
Beijo, abraço, bom dia e boa noite.

E os dias voavam, as penas caíam e os voos tornaram-se caminhadas.
Mas isso nunca atrapalhou seu dia,  seu canto nem tão pouco seu sorriso.
Os números dos abraços e dos beijos cresciam a cada dia. Voos e cantos para a velha menina pássaro. 

Menina que hoje voa sem as penas, acima das árvores e acima das nuvens. 
E nem todos veem.  



12.3.13

Girassol



Em seu Heliotropismo matinal, girassol dança sem deixar sequer uma pétala cair. Um sol na terra que não tem necessidade do fogo vermelho para chamar atenção. Tem uma beleza natural, o néctar. Iluminação espiritual. Sabedoria.

O vento com seu trabalho de soprar, refrescar, alisar, bater e derrubar, não arranca as pétalas da flor. Ele apenas espalha pólen e o aroma do néctar.
Alguns centímetros de distância voa um pequeno inseto, uma abelha. O inseto com seu voo torto e desengonçado aproxima-se da flor. A cheira, beija e pega um pouco de seu néctar. Cheira, beija e néctar. Cheira, beija e néctar. Esse processo repetiu-se algumas vezes por alguns dias, até numa noite o girassol soltar todas as suas pétalas e sumir. Do nada. Na manhã seguinte a abelha não encontra o girassol no mesmo local de sempre. Volta varias vezes, outras manhãs,  no mesmo local mas não encontra nada. Nenhuma pétala. Sumiu.

O inseto apenas sorrir com seu voo torto. Lembrou de algumas noites  que andava com um pouco de luz nos bolsos, que pegava de dia, para o girassol dançar à noite. A abelha adorava ver a dança no escuro. Sorriu mais uma vez, apontou para o norte e voou num voo torto.

No dia seguinte, onde todas as flores da mesma família dançavam, o inseto voltou. Olha alguns minutos para os lados e observa um caule. O inseto aproxima-se. O inseto senta. O inseto torto ficou. Não estava ali apenas pelo néctar, era por algo a mais. Algo inexplicável. E o inseto sentado ficou. Ele, um livro e um favo de mel, pois por se tratar de uma flor anual a abelha precisava de algo para passar o tempo. E espera.

26.10.12

Títere



O sol bate na janela e uma grande criança acorda de um pequeno sono. Com um sorriso no rosto levanta-se e vai até a sala num pulo. Lá, havia uma surpresa que a deixaria com o sorriso mais largo. Um boneco. Um simples, pequeno e grande Títere. Sim, um Títere estava encostado no sofá de braços abertos, não esperando por alguém, mas estava de braços abertos.

A criança, encantada, pega e não larga o boneco. Eram conversas, risos e brincadeiras sempre juntos. Sempre. Em uma das brincadeiras a grande criança nota uns cordéis no boneco e fica impressionada com aquilo. Uns ligavam a boca, outros as pernas, braços, cabeça, peito... tudo era ligado. Começou a puxar um por um e achou engraçado brincar de puxar os cordéis do boneco.
Começou a controlar tudo. Braços, pernas, conversas... Crianças. Era uma novidade enorme. Correu e rapidamente apresentou seu brinquedo aos amigos e  familiares. Eles adoraram o boneco, que adorava a criança, que adorava brincar.

Cordéis. Todo dia era um puxar para cima, para baixo, para um lado e para o outro. Tudo era muito simples até, um ser puxado sozinho pelo boneco. A criança assustada, puxou todas as cordas de uma vez só num reflexo. De olhos arregalados olhava para o boneco e achou que estava com defeito. Mas não, simplesmente o boneco tinha vida e falou. Sim, falou. A grande criança,  ainda assustada, não sabia o que fazer. Achava que era impossível o boneco mover-se, achava que bonecos não poderiam falar... achava.

Num movimento brusco, a criança corta todos os cordéis não deixando um conectado. O boneco não caiu, não quebrou, mas perdeu os cordéis. Olhou para a criança que disse em seguida: - Vai ficar tudo bem. Não vai mudar nada nos movimentos. – o títere apenas olhava nos olhas da criança que olhava para o nada.
Tudo ficou bem... diferente. Na mesma hora percebeu que o sorriso era torto, a voz era torta e os abraços sem braços.

A pequena grande criança não percebeu que os cordéis não eram apenas ligados as pernas, braços, cabeça... Também eram ligados ao sorriso, abraço e a amizade. Desequilíbrio.
      
   

11.4.12

Adolfo

Adolfo. 69 anos. Acordava às 05h00 da manhã em ponto todo o dia. Levantava com o pé direito, pois o esquerdo tinha perdido em uma guerra sem cabeça. Lavava o rosto com água morna, escovava os dentes, que ficavam num copo com água, colocava a velha roupa social e perfumava-se todo. Do pé até orelha. Era um senhor elegante. Nunca esquecia de nada. Nada mesmo. Nem do laço elegante de sua gravata borboleta, e do laço dos sapatos que eram bem engraxados todas às noite antes de dormir. Ele realmente não esqueci de nada. Nem da flor para a Daisy. Daisy era uma senhora que vendia pipoca na praça. Ele passava lá para dar-lhe flores toda à tarde. Muitas pessoas até pensavam que ela vendia flores ao invés de pipoca, pela quantidade e variedade das flores que ficavam em sua volta. Ela adorava.

Todo dia a mesmo coisa. Pé direito, dentes, perfume... não esqueci nada. Tinha uma boa memória. Daisy ficava sempre à sua espera. Estava sempre com um sorriso no rosto, mesmo que não vendesse nenhuma pipoca.
Adolfo, ficava na esperança de um beijo, nem que fosse no rosto, mas ela nunca o dera. Até que um dia ela sai de casa decidida em dar-lhe um beijo. Sai tão ansiosa que esquece de levar as pipocas em seu carrinho. Chega bem cedo na praça e o espera. Espera e espera. Surpreendentemente, ele não passa. Ela fica preocupada e olha para o seu relógio a cada 1 minuto. Passados 10 minutos ela sai e vai até a casa dele deixando a pipoqueira na praça.


Depois de duas árvores, um poste e um cachorro, ela chega até a porta da casa de Adolfo. Ela percebe que  a porta está aberta e entra pedindo licença. Chega até a porta de seu quarto com passos leves e lentos. Estava cansada. Ao chegar perto da cama ver que Adolfo ainda dorme, e percebe que o homem que nunca esquecera de nada, esqueceu de acordar naquela linda manha de domingo. Ela o beija, ele dorme... ela chora.

2.12.11

Fome de mundo





Havia uma pequena traça que adorava devorar livros em uma grande estante. Comia um por dia. Admirava o mundo e pessoas. Achava que só devorar livros seria o suficiente para conhecê-los. E todo dia ia-se um livro. Pessoas altas, baixais, fortes, magras, negras e brancas. Ficava horas devorando. Pesquisava, achava e devorava. Era muito superficial apenas nos livros, dai decidiu devorar pessoas de verdade. Machucava umas e matava outras. Tentava devorar pessoas como devorava livros. Lia sobre relacionamentos, comportamentos e outras coisas sobre humanos. Mas humanos são muito complexos para estarem apenas em algumas dezenas ou centenas de páginas. Mas continuou a devorar.  Não percebia que machucava ou fingia muito bem. Passava-se o tempo e não se satisfazia. Percebe que lhe faltava algo.

Um belo dia, descansando de uma de suas refeições, debruçada na janela, ver estrelas no céu e percebe o quão é grande o mundo. Nos livros havia apenas fotos pequenas, umas um pouco maior que ela. Tinha idéia, em sua pequena cabeça, do tamanho do céu mas, ao ver pela janela ficou impressionada. Decide, então, devorar todo o céu. Mas como? A pequena traça mal conseguia se rastejar até a página quinze do livro para subir até a janela.  Tentava buscar algo em sua cabeça, alguma idéia de como chegar até o céu. Já devorara livros sobre o mar, cidades, medicinas, estrelas, coisas escritas na estrelas e tudo que envolvesse pessoas. Havia lido algo sobre animais, mas sabia muito pouco sobre. Apenas o básico, não havia muito interesse.

Dias depois, na janela, aparece um pássaro bonito com suas belas asas verdes. A traça viu e começou a conversar com o belo pássaro. Ele morava longe e sobrevoava aquela área a procura de comida. A traça admirou-se com o pássaro e com seu vôo alto de despedida. Ele voava bem alto.

Dias observando o pássaro, viu onde ele tinha pousado e foi até o seu ninho. Levou dias para chegar até a árvore que ficava a quatro minutos da janela. Lá, conversara por horas, conheceu mais pássaros e amizades foram feitas. Sabia como fazer. Leu muito sobre. Só não sabia manter, pois sua fome era grande.  Longe da janela e de sua enorme estante, ela não devorava mais livros nem tão pouco pessoas. Hoje, ela devora pássaros. Tomou interesse.

Depois desse dia, astrônomos perceberam que algumas estrelas começaram a desaparecer do céu. E os livros nunca mais foram os mesmos. Nem os sobre pessoas, pássaros nem tão pouco os sobre estrelas.

11.11.11

Ninar a lua


Nina canta para a lua todas as noites

Debruçada na janela do seu quarto ela se esgoela

Canta canções conhecidas ou inventadas para sua amiga lua

Nina ama a lua. A lua não conhece Nina

Tudo era lindo até que um dia a lua, bem enorme no céu estrelado, boceja

Fica cheia das canções e some

Nina chora e espera amanhecer. Não dormiu

Assim que o sol chega ela reclama com a grande bola de fogo

Falara por horas que a lua não ligava para ela

O sol olha para Nina e sorrir

Disse que não se preocupasse pois, quando ela voltasse estaria diferente

Nina espera à noite chegar, ela chega, e lá está a lua. Nova

Agora, Nina canta para a lua e a lua canta para Nina

Nina com o tempo se acostuma com as fases da lua

Quando ela ficava crescente, tímida, aparecendo apenas uma pequena parte

E minguante, preguiçosa, chegando apenas na madrugada

E Nina amava a lua mesmo assim

Difícil de entende-la, mas ela era especial

E assim Nina continuava a cantar para a lua, mesmo sabendo que ela
ficaria cheia um dia

Mas o importante é que ela iria ficar nova novamente e as duas cantariam juntas 
à noite toda

O sol fica feliz, não precisava mais ouvir reclamações de Nina sobre a lua

Só quando havia um eclipse. Nina fica perdida com o desaparecimento total 
ou parcial dos dois

Até que um dia Nina entendeu e começou gritar: - Ta namorando!, ta namorando...

No dia seguinte, haja ouvidos para ouvir as reclamações de Nina

Fases cheia de sorrisos e aborrecimentos

E assim seguia Nina e a lua

Quem nunca passou por fases?

Boa Noite!