11.4.12

Adolfo

Adolfo. 69 anos. Acordava às 05h00 da manhã em ponto todo o dia. Levantava com o pé direito, pois o esquerdo tinha perdido em uma guerra sem cabeça. Lavava o rosto com água morna, escovava os dentes, que ficavam num copo com água, colocava a velha roupa social e perfumava-se todo. Do pé até orelha. Era um senhor elegante. Nunca esquecia de nada. Nada mesmo. Nem do laço elegante de sua gravata borboleta, e do laço dos sapatos que eram bem engraxados todas às noite antes de dormir. Ele realmente não esqueci de nada. Nem da flor para a Daisy. Daisy era uma senhora que vendia pipoca na praça. Ele passava lá para dar-lhe flores toda à tarde. Muitas pessoas até pensavam que ela vendia flores ao invés de pipoca, pela quantidade e variedade das flores que ficavam em sua volta. Ela adorava.

Todo dia a mesmo coisa. Pé direito, dentes, perfume... não esqueci nada. Tinha uma boa memória. Daisy ficava sempre à sua espera. Estava sempre com um sorriso no rosto, mesmo que não vendesse nenhuma pipoca.
Adolfo, ficava na esperança de um beijo, nem que fosse no rosto, mas ela nunca o dera. Até que um dia ela sai de casa decidida em dar-lhe um beijo. Sai tão ansiosa que esquece de levar as pipocas em seu carrinho. Chega bem cedo na praça e o espera. Espera e espera. Surpreendentemente, ele não passa. Ela fica preocupada e olha para o seu relógio a cada 1 minuto. Passados 10 minutos ela sai e vai até a casa dele deixando a pipoqueira na praça.


Depois de duas árvores, um poste e um cachorro, ela chega até a porta da casa de Adolfo. Ela percebe que  a porta está aberta e entra pedindo licença. Chega até a porta de seu quarto com passos leves e lentos. Estava cansada. Ao chegar perto da cama ver que Adolfo ainda dorme, e percebe que o homem que nunca esquecera de nada, esqueceu de acordar naquela linda manha de domingo. Ela o beija, ele dorme... ela chora.