2.12.11

Fome de mundo





Havia uma pequena traça que adorava devorar livros em uma grande estante. Comia um por dia. Admirava o mundo e pessoas. Achava que só devorar livros seria o suficiente para conhecê-los. E todo dia ia-se um livro. Pessoas altas, baixais, fortes, magras, negras e brancas. Ficava horas devorando. Pesquisava, achava e devorava. Era muito superficial apenas nos livros, dai decidiu devorar pessoas de verdade. Machucava umas e matava outras. Tentava devorar pessoas como devorava livros. Lia sobre relacionamentos, comportamentos e outras coisas sobre humanos. Mas humanos são muito complexos para estarem apenas em algumas dezenas ou centenas de páginas. Mas continuou a devorar.  Não percebia que machucava ou fingia muito bem. Passava-se o tempo e não se satisfazia. Percebe que lhe faltava algo.

Um belo dia, descansando de uma de suas refeições, debruçada na janela, ver estrelas no céu e percebe o quão é grande o mundo. Nos livros havia apenas fotos pequenas, umas um pouco maior que ela. Tinha idéia, em sua pequena cabeça, do tamanho do céu mas, ao ver pela janela ficou impressionada. Decide, então, devorar todo o céu. Mas como? A pequena traça mal conseguia se rastejar até a página quinze do livro para subir até a janela.  Tentava buscar algo em sua cabeça, alguma idéia de como chegar até o céu. Já devorara livros sobre o mar, cidades, medicinas, estrelas, coisas escritas na estrelas e tudo que envolvesse pessoas. Havia lido algo sobre animais, mas sabia muito pouco sobre. Apenas o básico, não havia muito interesse.

Dias depois, na janela, aparece um pássaro bonito com suas belas asas verdes. A traça viu e começou a conversar com o belo pássaro. Ele morava longe e sobrevoava aquela área a procura de comida. A traça admirou-se com o pássaro e com seu vôo alto de despedida. Ele voava bem alto.

Dias observando o pássaro, viu onde ele tinha pousado e foi até o seu ninho. Levou dias para chegar até a árvore que ficava a quatro minutos da janela. Lá, conversara por horas, conheceu mais pássaros e amizades foram feitas. Sabia como fazer. Leu muito sobre. Só não sabia manter, pois sua fome era grande.  Longe da janela e de sua enorme estante, ela não devorava mais livros nem tão pouco pessoas. Hoje, ela devora pássaros. Tomou interesse.

Depois desse dia, astrônomos perceberam que algumas estrelas começaram a desaparecer do céu. E os livros nunca mais foram os mesmos. Nem os sobre pessoas, pássaros nem tão pouco os sobre estrelas.

11.11.11

Ninar a lua


Nina canta para a lua todas as noites

Debruçada na janela do seu quarto ela se esgoela

Canta canções conhecidas ou inventadas para sua amiga lua

Nina ama a lua. A lua não conhece Nina

Tudo era lindo até que um dia a lua, bem enorme no céu estrelado, boceja

Fica cheia das canções e some

Nina chora e espera amanhecer. Não dormiu

Assim que o sol chega ela reclama com a grande bola de fogo

Falara por horas que a lua não ligava para ela

O sol olha para Nina e sorrir

Disse que não se preocupasse pois, quando ela voltasse estaria diferente

Nina espera à noite chegar, ela chega, e lá está a lua. Nova

Agora, Nina canta para a lua e a lua canta para Nina

Nina com o tempo se acostuma com as fases da lua

Quando ela ficava crescente, tímida, aparecendo apenas uma pequena parte

E minguante, preguiçosa, chegando apenas na madrugada

E Nina amava a lua mesmo assim

Difícil de entende-la, mas ela era especial

E assim Nina continuava a cantar para a lua, mesmo sabendo que ela
ficaria cheia um dia

Mas o importante é que ela iria ficar nova novamente e as duas cantariam juntas 
à noite toda

O sol fica feliz, não precisava mais ouvir reclamações de Nina sobre a lua

Só quando havia um eclipse. Nina fica perdida com o desaparecimento total 
ou parcial dos dois

Até que um dia Nina entendeu e começou gritar: - Ta namorando!, ta namorando...

No dia seguinte, haja ouvidos para ouvir as reclamações de Nina

Fases cheia de sorrisos e aborrecimentos

E assim seguia Nina e a lua

Quem nunca passou por fases?

Boa Noite!